domingo, 23 de outubro de 2011

Minha breve reflexão sobre as realidades sociais e a ação cristã no mundo

E como se não bastasse a indignação causada ao tomarmos conhecimento de fatos como o de que o resto de comida jogada no lixo por um só dia pelas empresas fast food americanas serviriam para matar a fome de todo o continente africano, agora precisamos segurar as rédeas e não perder o controle diante da reação de desprezo da igreja cristã - de um modo geral - diante de tais realidades.
É importante nos lembrarmos de que a igreja visível, em seus primórdios, tinha como prioridade o cuidado "do órfão e da viúva" - os necessitados, os pobres, os doentes, etc. Hoje, por mudanças drásticas na forma como os cristãos enxergam o mundo a sua volta, praticamente despreza essa realidade e tem como interesse primordial a ampliação de seus ministérios, cada um individualmente, visando poder econômico e muita, muita prosperidade! As quantias em dinheiro (ofertas), antigamente levantadas para dar suporte aos fiéis necessitados em lugares longínquos e locais (I Coríntios 16.1-3; II Coríntios 9.1,2; Filipenses 4.16; Romanos 15.26; Atos 4.34,35), hoje são agressivamente exigidas - em troca de bênçãos "espirituais" - em horário nobre de rede nacional de televisão. Mas o destino das grandiosas quantias não são os pobres e os necessitados, mas sim os próprios ministérios ou a própria igreja do pedinte. Os propósitos são variados: Compra de avião (jatinho particular), construção de novos Templos de Salomão, catedrais, aparelhagens de última geração, aluguéis de tempo em canais de televisão, entre outros, bem legítimos, como se pode observar. As desculpas esfarrapadas convencem até mesmo os próprios charlatões do Reino: "Ampliação do reino de Deus", "maior propagação da mensagem do Evangelho", etc. O incentivo, geralmente parece bem embasado nas Escrituras, parecem versos bíblicos: "quem planta colhe", "plante em 'solo fértil' e você colherá melhor" - e o solo fértil geralmente são os próprios pedintes ou, pelo menos, os mais prósperos (ricos) do que nós, ou ministérios mais ricos, ou populares - "sua colheita será proporcional ao plantio, então plante muito", "sua oferta demonstra o tamanho de sua fé" - um dos mais constrangedores que já ouvi, entre outros.
Biblicamente essas práticas já estariam erradicadas simplesmente pelos motivos básicos gananciosos, pela alienação, engano e abuso da fé simples dos ignorantes. Mas, ainda por cima, vemos o resultado de todo esse engano na vida das comunidades simples ao nosso redor: fiéis que permanecem na pobreza enquanto os pastores, profetas, apóstolos, etc. enriquecem a cada dia vendendo o ideal de prosperidade importado dos E.U.A. O Evangelho que visa o bem-estar humano é mais fácil de ser aceito numa sociedade carente como a do Brasil. Cristo é trocado do centro do Evangelho por promessas baratas de prosperidade, saúde, curas e vida longa, o que em grande parte das vezes não acontece. E eles ainda têm a "cara-de-pau" incentivarem esses fiéis a perseverarem na "fé PARA a prosperidade", se utilizando de textos bíblicos totalmente fora de contexto, como o da nuvenzinha avistada pelo servo do profeta Elias (I Reis 18.44ss). Se estivessem dentro de algum contexto, com certeza não estaria eu escrevendo esse texto.
Onde já se ouviu falar de um levantamento de oferta financeira entre as igrejas do Brasil com o fim de beneficiar os pobres na África, ou construir - ou pelo menos ajudar - instituições do câncer ou ONG's de ação social? Quando foi que levantamos R$ 900,00 sem a pretensão de colher inúmeros benefícios materiais ou espirituais, mas simplesmente  pelo prazer em ver pessoas sendo transformadas na sociedade, libertadas das drogas, da fome, e da miséria? Quando é que pararemos de construir templos e catedrais, para construir abrigos, escolas, hospitais? Deve ser muito fácil deixar a responsabilidade nas costas do governo!
Enquanto isso, simples crentes em Jesus Cristo, juntamente com missionários, morrem no Oriente Médio todos os dias pelo simples fato de os mantimentos NÃO CHEGARAM! Custa muito incentivarmos as igrejas a, pelo menos, escrever cartas de próprio punho aos que sofrem? Ou visitá-los? Custa muito doar algo que ainda esteja em condições de uso?
O mais engraçado é que os que lutam nesse sentido dentro das igrejas de hoje em dia são chamados publicamente de "trouxas" (http://www.youtube.com/watch?v=Dv3dVFwsgik - acessado 24/10/2011 às 02:25h) e "Judas", como já presenciei, pelo fato de denunciarem o esbanjamento de dinheiro e bens materiais. Fico a imaginar como é que comparecerão esses tais diante do divino tribunal para o julgamento das obras, como relatado pelo próprio Cristo no discurso das ovelhas e dos bodes (Mateus 25.32-46).
Mas e nós? seremos patrocinadores desse comércio desonesto de bênçãos, músicas e outras atrações que usurpam o lugar de Cristo nas pregações? Continuaremos contribuindo para o cachê dos "bam-bam-bans" da fé enquanto os verdadeiros necessitados morrem diante de nossos olhos? Continuaremos atendendo a pedidos exorbitantes de pregadores que, para divulgar a Palavra de Deus, cobram cachês altíssimos e estadias em hotéis de luxo ou ajudaremos os que realmente precisam de um lugar para dormir?
Se Jesus Cristo, nosso Senhor, Mestre, Messias e Deus, lavou os pés de seus discípulos ensinando-lhes que, em seu Reino, o maior é o que serve a todos, o que estamos fazendo em busca dos benefícios próprios? Se Ele disse que nosso Pai sabe cuidar de nós, por que ainda nos preocupamos tanto com o que vestiremos ou comeremos no dia de amanhã? Afinal, somos realmente cristãos ou só carregamos esse nome? Que paremos de buscar em tudo o bem estar humano, pensemos mais no próximo e nas próprias palavras de nosso Mestre Jesus Cristo: "Lembrai-vos da palavra que eu vos disse: Não é o servo maior do que o seu senhor. Se a mim me perseguiram, também vos perseguirão a vós". Que "conheçamos e prossigamos em conhecer ao Senhor" (Os 6.3), não nos termos que nós delimitamos para ele, demarcando sua esfera de ação, mas como Ele é realmente revelado nas Escrituras. Não em trechos isolados das Escrituras, defendendo pretextos heréticos, mas como revelado  em todo o texto, em todo o livro, em todo o testamento, em toda a bíblia, se possível. Esse é o nosso Deus! Conformemo-nos com Ele, não Ele a nós. Se o maior dos mandamentos é amarmos a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos (Lucas 22.36-39), que façamos disso nossa missão em gratidão pelo grande amor com que Deus, o Pai, nos amou e nos salvou por sua Graça.
Soli Deo Gloria!

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